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CADÊ A ÉTICA? ALGUÉM VIU?

por Gilbert Ronald Lopes Florêncio
Canal Filosófico - Gilbert Lopes

 

 

Ética, palavra tão simples, mas, ao que parece, de difícil compreensão. Ética é algo cuja existência só se dá na convivência, na relação com o outro. Estivesse cada um de nós isolado numa ilha e não se haveria cogitar acerca da eticidade de nossas condutas, ou seja, faríamos só o que nos fosse agradável e pronto, já que não existiria o outro a nos confrontar.

 

Todavia, como não somos insulares, mas gregários, a ética se apresenta como instrumento de viabilização de um convívio sustentável, isto é, permite-nos (con)viver bem hoje sem colocar sob risco o amanhã, até porque liberdade só faz sentido se houver limites a ela.

 

E por onde tem andado a ética, essa senhora tão importante?

 

Ouvi, de fonte segura, que está no hospital, muito adoentada, definhando, perdeu muito peso, magrinha magrinha, quase não se sustenta em pé. Também, pudera, sucumbiu à depressão profunda desde que o processo educativo, que a ela conduzia, começou a ser substituída pelo adestramento digital, baseado no condicionamento das condutas pelo uso de câmeras de vídeo, radares, lombadas, fotos, crachás, controles biométricos, detectores de presença etc.

 

E agora está assim: a combalida ética, numa maca no corredor de um hospital qualquer, deixada às moscas, na companhia tão só dos valores esquecidos (honra, respeito, integridade e dignidade), sendo visitada apenas por uns poucos que ainda se ressentem de sua ausência, enquanto a maioria, bem adestrada pela vigilância tecnológica, circula por aí, metendo o pé no balde toda vez que não há uma câmera para lhes dizer que se contenham e sorriam, pois estão sendo filmados; atropelam-se e abalroam-se os motoristas que, imbecilizados pelos radares, aceleram e freiam, aceleram e freiam, aceleram e freiam, já que a capacidade de discernir lhes foi subtraída (ou nunca lhes foi proporcionada); filas são furadas; vagas de idosos e deficientes são usurpadas; dinheiro público é desviado; vidas são mercantilizadas e banalizadas, e as leis... bem, só são obedecidas as que colam, tornaram-se questão de gosto pessoal, e o direito, apesar de opor-se ao torto, tem feito muitas curvas... enfim, o que ainda se pode dizer para ouvidos que não mais sabem escutar?

 

Mas, e o bom senso? Ahh!!!, coitado!!!, estava no mesmo hospital, ao lado da ética, disseram-me que não resistiu, morreu na semana passada.

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